segunda-feira, 16 de maio de 2011

Banquete Antropofágico





A efemeridade dos conteúdos e a eternidade dos invólucros caracterizam a modernidade líquida problematizada por Zygmunt Bauman, configurando um retrato da contemporaneidade. Fazendo com que a vida flutue entre os prazeres do consumo e os horrores do acúmulo de lixo, a realidade assim descrita suscita seres desapegados, descolados da realidade, como que constituindo uma permanente vanguarda a favor do eterno recomeço.
Reciclar idéias numa produção audiovisual foi a proposta detonadora do vídeo Banquete Antropofágico, produzido pelos integrantes do PhotoGraphein – Núcleo de Pesquisa em Fotografia e Educação, FURG/CNPq. Essa produção coletiva deu origem à exposição de mesmo nome, apresentada no Centro Municipal de Cultura de Rio Grande (RS), em maio de 2010. Nela, as imagens e os sons se mesclaram com a intenção de possibilitar aos espectadores digerirem as qualidades do nosso tempo através da poética de cada artista.
Mário de Andrade em seu Manifesto conclama Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. Sugerimos aos nossos espectadores a pausa reflexiva através de imagens-alimento do televisivo-antropofágico que nos leva à cegueira. Uma metáfora do alimento cultural, intelectual e comportamental instituído pela mídia.
O mundo líquido-moderno, assim como postula Bauman, abreviou drasticamente o lapso de tempo que separa o querer do obter, expondo as alegrias e o asco de ingerir o que o mundo nos encoraja e nos seduz a fazê-lo. A síndrome consumista é uma questão de velocidade, excesso e desperdício confrontando permanentemente o valor da novidade com o valor da permanência.
Hoje o olho do consumidor não resiste a dar uma espiada no valor de mercadoria do sujeito que deseja, somos o que comemos e comemos o que somos. Projetamos o mundo e todos os seus fragmentos animados e inanimados como objetos de consumo. Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia. Eis a proposta de Mário de Andrade.
Juntamo-nos a eles, Bauman e Andrade, em prol de uma experiência pessoal renovada e da sobrevivência de nossa sociedade e de todos nós, dependentes que somos da rapidez com que os produtos são enviados aos depósitos de lixo e da velocidade e ‘eficiência’ da remoção dos detritos.

Vejam as imagens da exposição em: 

Post de Cláudia Brandão

Nenhum comentário:

Postar um comentário