Visitei
General Câmara no final de 2014 junto com a minha amiga, onde ambos passamos boa parte de nossas infâncias, uma pequena cidade de menos de nove mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul.
Andamos
pelas suas ruas desertas num sábado a tarde e visitamos pontos que nos remetiam a época em
que brincávamos juntos em nosso mundo de fantasia. Primeiro começamos a notar o
que havia mudado desde 2002, última vez em que morei ali. E vimos apenas
estabelecimentos comerciais fechados, alguns bazares onde comprava minhas
cartas de tabuleiro estavam do mesmo jeito, mesma pintura, mesmo cheiro, a
única sorveteria da cidade, sempre fechada.
Pouca coisa
realmente havia se inovado, o que mais cresceu por
ali foram as ruínas, já existentes no meu tempo
de criança. Visitamos então o bairro das casas do Arsenal do Exército onde morei, assim como a maioria dos meus
amigos, para encontrá-lo deserto. Mais ruínas. Fui direto para minha casa, buscando saber em que condições ela estava, e fiquei
impressionado com o seu estado de
conservação: pichações, paredes e janelas quebradas. O que havia acontecido
ali? As memórias daquele momento se misturaram com as memórias do meu passado...
do pátio onde brincava com a minha irmã e a nossa cachorra, dos churrascos de
domingo. A única coisa que parecia manter-se intocável
ali, como o último bastião do meu passado, eram
as orquídeas que minha mãe havia fixado no Cinamomo do jardim. Elas resistiram, floridas com suas pétalas rosadas,
resistentes, desde o primeiro dia em que nos mudamos para lá.
Depois de
explorar mais algumas casas abandonadas fomos ao
antigo clube da cidade, que já estava abandonado quando morávamos na cidade. Tivemos a coragem de entrar e vimos um tesouro
perdido ali. O bar estava intacto assim como as escadas. Havia uma parte do
piso original ainda. Há alguns anos houve até um projeto de reconstruí-lo, mas
por algum motivo acabou sendo colocado de lado.
Por fim
visitamos a escola onde cursamos o fundamental, e se havia achado que rever a
minha casa foi uma experiência forte de nostalgia eu estava enganado. Estudei
no Instituto Estadual de Educação Vasconcelos Jardim, a melhor escola pública
da região. Lembro de que na minha percepção de criança ela era
gigante, com corredores infinitos e um pátio maior ainda, onde eu corria livre
com meus colegas no intervalo. Os aniversários que havia feito ali, as
brincadeiras de caçador na educação física, vários momentos bons voltaram a
minha mente e desejei por um momento apenas, reviver tudo aquilo novamente.
General Câmara
se transformou em uma cidade de transição, a população vem diminuindo cada vez
mais, como uma cidade que não tem muito para
oferecer. Entretanto, há muitas histórias
enraizadas ali, e julgo importante que todos que ali viveram lembrem do seu passado, de onde
vieram, pois assim como as casas de lá estão ruindo e desaparecendo um dia nós
também iremos desaparecer. E a memória, onde irá ficar?
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