domingo, 17 de maio de 2015

E a memória onde irá ficar?

texto e fotos: Ítalo Franco, pesquisador do PhotoGraphein.

                        Visitei General Câmara no final de 2014 junto com a minha amiga, onde ambos passamos boa parte de nossas infâncias, uma pequena cidade de menos de nove mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul.
           
            Andamos pelas suas ruas desertas num sábado a tarde e visitamos pontos que nos remetiam a época em que brincávamos juntos em nosso mundo de fantasia. Primeiro começamos a notar o que havia mudado desde 2002, última vez em que morei ali. E vimos apenas estabelecimentos comerciais fechados, alguns bazares onde comprava minhas cartas de tabuleiro estavam do mesmo jeito, mesma pintura, mesmo cheiro, a única sorveteria da cidade, sempre fechada.
           
            Pouca coisa realmente havia se inovado, o que mais cresceu por ali foram as ruínas, já existentes no meu tempo de criança. Visitamos então o bairro das casas do Arsenal do Exército onde morei, assim como a maioria dos meus amigos, para encontrá-lo deserto. Mais ruínas. Fui direto para minha casa, buscando saber em que condições ela estava, e fiquei impressionado com o seu estado de conservação: pichações, paredes e janelas quebradas. O que havia acontecido ali? As memórias daquele momento se misturaram com as memórias do meu passado... do pátio onde brincava com a minha irmã e a nossa cachorra, dos churrascos de domingo. A única coisa que parecia manter-se intocável ali, como o último bastião do meu passado, eram as orquídeas que minha mãe havia fixado no Cinamomo do jardim. Elas resistiram, floridas com suas pétalas rosadas, resistentes, desde o primeiro dia em que nos mudamos para lá.
            Depois de explorar mais algumas casas abandonadas fomos ao antigo clube da cidade, que já estava abandonado quando morávamos na cidade. Tivemos a coragem de entrar e vimos um tesouro perdido ali. O bar estava intacto assim como as escadas. Havia uma parte do piso original ainda. Há alguns anos houve até um projeto de reconstruí-lo, mas por algum motivo acabou sendo colocado de lado.
            Por fim visitamos a escola onde cursamos o fundamental, e se havia achado que rever a minha casa foi uma experiência forte de nostalgia eu estava enganado. Estudei no Instituto Estadual de Educação Vasconcelos Jardim, a melhor escola pública da região. Lembro de que na minha percepção de criança ela era gigante, com corredores infinitos e um pátio maior ainda, onde eu corria livre com meus colegas no intervalo. Os aniversários que havia feito ali, as brincadeiras de caçador na educação física, vários momentos bons voltaram a minha mente e desejei por um momento apenas, reviver tudo aquilo novamente.

            General Câmara se transformou em uma cidade de transição, a população vem diminuindo cada vez mais, como uma cidade que não tem muito para oferecer. Entretanto, há muitas histórias enraizadas ali, e julgo importante que todos que ali viveram lembrem do seu passado, de onde vieram, pois assim como as casas de lá estão ruindo e desaparecendo um dia nós também iremos desaparecer. E a memória, onde irá ficar?

E

a

m
e
m
ó
r
i
a,

o
n
d
e

i
r
á

f
i
c
a
r
?








Nenhum comentário:

Postar um comentário