segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A casa e obra de Hamilton Koelho



Casa é o nosso primeiro universo. Até a mais modesta habitação, vista intimamente, é bela. Vive a casa em sua realidade e em sua virtualidade, através do pensamento e dos sonhos e é ela quem abriga o devaneio, a casa protege o sonhador, a casa nos permite sonhar em paz, como nos diz Bachelard.

Onde é a nossa casa? Ela necessariamente precisa ser revestida por paredes? A parede não é mais o que delimita e define o lugar onde vivemos, é o que separa os lugares de onde os outros vivem. Então, talvez a nossa casa seja o universo inteiro, sem quartos, sem paredes e sim a céu aberto.

É desse modo que entendo o trabalho de Hamilton Koelho – Artista gaúcho, considerado o primeiro habitante do Brasil (ou o último, depende do ponto de vista) sua casa fica a alguns metros da fronteira da Barra do Chuí (extremo sul do Brasil) com Uruguai e nos fundos do seu terreno vão até o Oceano Atlântico, mar aberto, com uma extensão de praia de 214 quilômetros. Ao norte, espalha-se o pampa gaúcho, recortado pelas lagoas Mirim e Mangueira: um mundão de planícies alagadiças. 

Seu trabalho basicamente consiste em transformar restos mortais de baleias (sua principal fonte de matéria prima) em arte, despertando a consciência ecológica.

As esculturas de Koelho não partem de objetos industrializados, mas se apropriam de matérias naturais como ossos de baleia, restos de naufrágios e tudo o que o mar trouxer para presenteá-lo. Assim, pode-se perceber a força sensível que as esculturas impõem, mesmo constituídas de restos mortais de um animal, remetendo a morte, a chegada desses ossos até a beira mar nos faz notar o reencontro da matéria com o artista e a transformação da mesma quando disposta em um espaço onde o sensorial individual analisará as formas naturais.

É uma observação e interpretação que vai ocorrendo lentamente, pois ela acontece também pela percepção do espaço em volta (um pedaço de terra longe de tudo, as vezes esquecido?), a compreensão da naturalidade envolvida. Porém, a arte em sua simplicidade não precisa ser entendida, apenas sentida. 

Referências:
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Tradução de Antônio da Costa Leal e Lígia do Valle Santos Leal. São Paulo, 1948.
PEREC, Georges. Espécies de espaços. Notas traduzidas por Marina da Silva.Edição Galilée, Paris, 1974.

Post de Mariana Corteze

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